sexta-feira, setembro 30, 2005

Há utopias e utopias

A(s) minha(s) utopia(s) do(s) dia(s):

Ter - todos os dias! - tempo para passar para aqui a utopia com que adormeci, ou com que acordei para começar o dia.

Esta é mesmo utopia (cqd como se diz na matemática)

Conseguir que as minhas utopias do dia tenham quem se interesse minimamente por elas.

E é tão bom ter utopias (ou desejos?) destes e vê-las (vê-los?) cumpridos.Obrigado, amigos

Vir alguém dizer-me que ainda falta uma!

A esta chamaria... contabilistica. Mas estou sempre a prestar contas aos outros.

terça-feira, setembro 27, 2005

Há utopias e utopias

A minha utopia do dia:

Viver as 24 horas do dia...
porque não tem mais e a utopia não vai tão longe que interfira nessa coisa dos sois e das luas.

Esta é demasiado pessoal mas, que querem?, acordem com ela na cachimónia.

segunda-feira, setembro 26, 2005

De vez em quando...

... a mesma dúvida me é acordada ao ouvir declarações de dirigentes partidários e que, por isso, se julgariam particularmente bem colocados para não terem:

será que não se conhece a diferença entre delito de opinião e (in)disciplina partidária (como poderia ser associativa, no relacionamento doméstico, onde quer que seja que os homens e as mulheres se organizem para con-viver)?

Há utopias e utopias

A minha utopia do dia:

Uma Europa de cooperação entre Estados soberanos, independentes e solidários - entre eles o Portugal querido pelos portugueses, todos informados e conscientes - formando um mosaico de culturas, num mundo em paz .

Mais uma utopia (ou desejo?) pela qual luto para que se realize.
Quando? Sei lá... depende.

domingo, setembro 25, 2005

PASSEIOS À VOLTA DA CASA E DA MEMÓRIA - Itinerário 2 - 5

(continuação)

Ainda com o ladrar do Brutus (é o nome do cão dos nossos amigos) nas nossas costas, uma pequena paragem onde a Rua da Terra Fria tem, à nossa direito, a Travessa das Silveiras, para, mais uma vez, ver a baixa que, depois, sobe pelas Silveiras e chega aos castelos. Sempre diferente.
Pequena teve de ser a paragem porque ela já lá vai… Passam por nós tractores com atrelados vindos das vindimas. A todos saudamos e saudados somos. Mas aquele que acaba de passar por ela foi mais efusivo… mas não a fez desacelerar!
"Olha… é o senhor Torda…”
“Ora viva, doutor… ‘tá bom”
“Tou, sim senhor… e o amigo?... vem da vindima?”
“É verdade…”
“E que tal? Este ano há muita uva, não é?”
“Ih! Muita… o ano passado fiz 26 cestos e este ano 51…”
“Boa… Quase, quase o dobro…”

Olhou para mim, admirado por eu fazer contas tão depressa…
“… e estão grossas?... não houve aquela chuvita…”
“Não estão más… não estão nada más… vai sair boa pinga!”
“Temos de a beber…”
“Não me falte lá na adega, ó doutor”

E seguiu cada um para seu lado. Eu a ver se a apanho… Consegui apanhá-la. E chegamos juntos à Rua Joaquim Ribeiro. É como se já estivéssemos em casa.
E a casa voltamos. Como no final de todos os itinerários.

Há utopias e utopias

A minha utopia do dia:

Jerónimo de Sousa a passar à 2ª volta das presidenciais

Por esta, lutaremos nesta batalha que se segue à das autárquicas.
Por agora...

sábado, setembro 24, 2005

PASSEIOS À VOLTA DA CASA E DA MEMÓRIA - Itinerário 2 - 4


(continuação)

Depressa se chega ao Zambujeiro, pegadinho ao Zambujal naquela que é a estrada principal. Apesar do pouco movimento estão a apetecer-nos passeios pelo campo… Outros itinerários.

Neste itinerário, temos outra casa velha e a cair. Corta o coração, até porque confrontamos mamarrachos à volta (que não fotogramos para não sujar a objectiva... ou não comentamos) que tudo perdem perante a harmonia de espaços e volumes que o tempo e a vida apuraram e que estamos a deixar destruir. E os castelos, sempre tutelares, a acompanharem-nos.
Zambujeiro é curta povoação e logo aparece o Casal Branco. Já com outras dimensões e pretensões. Onde está a loja do Lopes sempre muito frequentada e onde há festa e até um cemitério!

À entrada de Casal Branco damos a volta e fazemos, pelo outro lado, o caminho de regresso. Sem repetir os passos não repetimos as fotografias. Faz-se rápido até chegar ao cruzamento para S.Sebastião, pela Rua da Terra Fria já nossa conhecida mas não este troço.

Indo pela Rua da Terra Fria, encontramos casas de amigos, como esta. Uma casa de amigos e um cão (preso!) que ladra que se esgalga… até aos amigos da casa. Aqui podíamos parar, como às vezes fazemos, para beber uma aguita e trocar dois dedos de conversa. Mas o ritmo (ah!, o ritmo…) desta vez não deixa. Isto é, ela não quis por causa do ritmo que se/nos impôs…

Há utopias e utopias...

A minha utopia do dia:

Que as crianças tenham aapenas uma fome: a fome de ler, de aprender, de conhecer o viver dos outros (não a vida dos outros...), a fome de serem solidários,
E que não tenham de se defender e de ser protegidas dos adultos.

sexta-feira, setembro 23, 2005

PASSEIOS À VOLTA DA CASA E DA MEMÓRIA - Itinerário 2 - 3

(continuação)

A caminho da chamada Rua Principal, vemos as traseiras do pátio da Escola do Zambujal, a que tanto quero com o recreio onde me lembro de ter andado a dar chutos numa bola em brincadeira com os miúdos.
E quando lá chegamos, à Rua Principal, temos pela frente a paisagem repousante e empolgante das Silveiras a subirem para o morro dos Castelos.

Logo se encontra uma casa, a primeira que se fotografa, esta casa tão bela e harmoniosa que temos tanta pena de ver estar a deixar-se destruir.
Andando, caminhando que assim se fazem os caminhos, se descobre esta resistente picota a enquadrar os Castelos.

(continua)

Há utopias e utopias...

A minha utopia do dia:

Um mundo em que todas as crianças - todas diferentes, todas iguais - viverão o seu tempo de crianças serem

quinta-feira, setembro 22, 2005

PASSEIOS À VOLTA DA CASA E DA MEMÓRIA - Itinerário 2 - 2

(continuação)
Logo se faz a curva para entrar no centro da aldeia.
À esquerda, a casa do ti Francisco Final, de boa memória e descendência. Atravessado o centro, com “ela” a acelerar (por causa do ritmo…), deixada à direita a capelinha que muito perdeu relativamente ao pequeno e harmonioso edifício que já foi e, à esquerda, o recinto deserto da “2ª melhor festa que há“ (isto digo eu quando há filarmónica...), com o tão desaproveitado espaço do salão paroquial ao fundo, sai-se da aldeia por onde se vê a antiga eira pública.

Ao fundo, em baixo no vale, estão as “terras do poço”, onde o meu pai me levava nas tais “voltas de proprietário” porque ali tinha duas pequenas propriedades, uma delas com vinha onde por esta altura íamos à vindima.
Por esta estrada ("rua da associação”, associação que era “dos amigos da serra” e que foi bela iniciativa que se perdeu…), costumava levar todos os meus amigos e visitas de minha casa para mostrar a água dos poços e outras consequências dos “fornos de carvão do Vale da Perra” que uma luta inesquecível fez com que fechassem.

(continua)

Há utopias e utopias

A minha utopia do dia:

ganhar o euromilhões

Ora aqui está um exemplo das utopias (que utopias são) pelas quais não luto...
é que nem jogo!

quarta-feira, setembro 21, 2005

O maratonista

lá vou fazer mais este spint, desabafou o maratonista

é pá... que g'anda bigode que vais levar, riu-se o corredor de velocidade(s)

olha que não!... mas deixa lá, eu ainda faço uns sprints de vez em quando, nunca vi foi um corredor de velocidade(s) correr uma maratona, ripostou o maratonista

Mas é por causa da idade?...

A razão mais importante nem é a da idade
... é a dos desgostos que nos deu na vida.

Utopias

A minha utopia do dia:

Ver Luís Vieira eleito Presidente da Câmara de Ourém

por esta luto!

PASSEIOS À VOLTA DA CASA E DA MEMÓRIA - Iinerário 2 - 1

Desta vez, para este itinerário 2, virámos à esquerda, para cima.
E logo ali me apeteceu fotografar a velha e abandonada casa do ti’Zé Alfaiate, uma casa cheia de memórias minhas, como quando passei algum tempo naquele alpendre a desenhar os Castelos, já com o pesar que comigo carrego deles não se verem de minha casa. Aliás, é o único defeito que nesta encontro, ou melhor, os outros vou tentando corrigir mas o de não se verem os Castelos é impossível (se impossíveis há) de corrigir.

Até porque, como que a fazer-me negaças, eles-os-Castelos, espreitam logo ali um pouco acima, por sobre todos as casas e telhados e chaminés e árvores e arbustos. Mas avante que por aqui se vai a caminho do centro da aldeia.
E logo se encontra uma recordação significativa. Foi aqui neste beco que, há mais de 50 anos, se instalou a primeira escola do Zambujal, e o Xico Santo Amaro (o Xiquito!), de imaculada bata branca, fez a bandeira portuguesa subir no mastro (tenho foto comprovativa...), já com a primeira professora (então chamada regente de ensino), a pequenina Dona Esmeralda, a assistir:

(continua)












terça-feira, setembro 20, 2005

Naturalmente...

No Parlamento Europeu, doo grupo a que pertenci a partir da tarefa de militante do PCP eleito deputado europeu, fazia parte uma componente alemã, os eleitos do partido PDS.
Naturalmente que as eleições na Alemanha me interessaram, e naturalmente que em particular me interessava saber o resultado do partido com que trabalhei enquanto estive no PE.
E como essa informação não me chegou logo, como achei que seria natural, resolvi fazer um teste. Entre outras coisas à minha paciência... Cujo teste seria o de ver como teria acesso a essa informação se não a procurasse expressamente. Se fosse um ouvinte (ou ouvidente) comum.
Fui ouvindo e "ouvendo" rádio e televisão como naturalmente faço e ouvi váriadíssimo noticiário sobre as ditas eleições. Os resultados, as coligações eventuais e desejadas (por quem? por quem votou?), a evolução das bolsas, a vitória (de Pyrrus) da "direita" e a maioria da "esquerda", as negociações em curso, tudo menos o resultado do PDS.
E a minha paciência ia resistindo. Se calhar, hoje não aguentava e iria fazer um telefonema para saber coisas... que saber queria mas que os orgãos de informação me não diziam.
Mas eis que, no noticiário das 8 desta manhã, lá ouvi, no meio de muita coisa, de muita "palha", que o PSD "o partido dos ex-comunistas" como foi dito, duplicou o número de votos e passou a ter 54 deputados.
Isto tem lá alguma importância?!... ou terá tanta que é melhor que o ouvinte comum não saiba!?
Naturalmente me inclino para a segunda hipótese. Mas eu sou naturalmente suspeito.

domingo, setembro 18, 2005

Há utopias e utopias

Uma das minhas utopias, ou um dos níveis da minha utopia:

Uma sociedade organizada por forma que crie condições e valorize princípios e valores como os da solidariedade, do convívio (ou da convivência), do respeito mútuo, da igualdade (não é o mesmo, é até bem diferente!, que igualitarismo), de ausência e criminalização da exploração do homem pelo homem (no sentido genérico...), por mais superiores que uns homens e mulheres se julguem por genes, heranças ou outras maniganças.

Por esta... luto enquanto puder!

PASSEIOS À VOLTA DA CASA E DA MEMÓRIA - Itinerário 1 - 6

(continuação)

Já estamos de regresso. de itinerário que não é para o passeio de uma hora de que outros têm a duração. Mas este foi um pouco encurtado como “safari fotográfico”. Por isso deixámos a capela para trás, para outros itinerários. Passámos à porta do Xico Santo Amaro, deixámos à esquerda a Travessa da Terra Fria e acelerámos, isto é, não tirámos mais fotografias. Ou as que tirámos de onde já tínhamos feito aqui não as trouxemos.
E o itinerário 1 chega ao fim.
A CASA! Onde todos os itinerários começam e todos terminam.

(mais itinerários haverá)

Há utopias e utopias

A utopia de alguns:

Um Portugal com 10 milhões de pessoas que, uma a uma, sabe o que quer e esses 10 milhões a fazerem como só cada uma delas, uma a uma, sabe e pode fazer.
Os colectivos e o resto (o que sobrar dos tais 10 milhões - mais coisa menos coisa -, isto é, gentinha) é para esquecer, porque não os podem exterminar... pois não vão tão longe com a sua utopia!


Para esta utopia não dou, e combato-a com todas as minhas forças!

sábado, setembro 17, 2005

PASSEIOS À VOLTA DA CASA E DA MEMÓRIA - Itinerário 1 -5

(continuação) Do outro lado, no que era campo aberto, ou do que me lembro como tal, está agora uma vinha. Mas para mim é o campo largo e aberto onde os franceses levaram a saraivada de chuva de pedras que S.Sebastião lhes atirou, estando por saber se antes se depois de terem destruído a capela… de onde vamos a caminho. Há quem tenha outra versão, mais científica, se científica é, de que as tais pedras são a prova de que este campo já esteve submerso.

Afastamo-nos da Terra Fria e subimos como se fossemos para as Silveiras e o pequeno pinhal que nos separa dos Castelos. Para nele caçarem, lembro-me que vinham amigos do meu pai, em fins-de-semana, quando estes eram ingleses por isso curtos, a começarem à uma da tarde de sábado, e muito mais do dobro do tempo se demorava a chegar de Lisboa porque os carros andavam pouco e, mesmo que mais pudessem andar, as estradas não deixavam correr. Mas por ali havia coelhos e perdizes que, quando hoje se vêm, são um espanto.
Chegados ao cimo do caminho agora aberto, viramos à esquerda e descemos para as cercanias da capela onde antes havia um lagar e onde, hoje, um cãozarrão nos ladra irritado. Não lhe ligamos. O que nos morde é o espectáculo de carros abandonados tão perto do que poderia – e deveria! – ser um lugar para encontros e recordações. São já três as carcassas de ferro e vidro, e uma apanhámos com a capela em fundo.
Esta é a parte do percurso que agride. Se a chaparia agride a natureza, maior é a agressão à natureza e à história na velha ponte que a brincar se dizia romana mas que medieval seria e calçada antiga tinha, destruíram muretes, cobriram a calçada com alcatrão, colocaram uns corrimões amarelos a proteger os passantes (proibida a passagem a camiões!). Um crime!

(continua e acaba... este itinerário)

lembrando Zé Gomes Ferreira

as revoluções começam a perder-se e os revolucionários a deixar de o ser quando desistem de lutar pelo impossível!

quinta-feira, setembro 15, 2005

PASSEIOS À VOLTA DA CASA E DA MEMÓRIA - Itinerário 1 - 4

(continuação)


Olá, vizinha, bom dia…”
“Bom dia… veio ver as terras que eram do seu paizinho… lembra-se delas?...”
“É verdade… se me lembro bem…”
“Pois é… agora esta, que está nas minhas costas é amanhada pelo meu filho”
“Ainda bem que não está ao abandono… Boa sorte, vizinha”
“Obrigada, boa sorte também, deus o ajude”.


Uns metros à frente, pelo carreiro, faz-se a curva para a direita e tem-se à frente o poço e a picota. Que hoje é tudo de cimento e blocos… e sem préstimo. Quando os conheci, o poço não tinha muro de segurança, só umas tabuitas e a picota enganchava numa oliveira. Lembro-me de uma fotografia com o meu pai, rapaz novo, encavalitado na oliveira onde fazia eixo com a picota. Hei-de encontrá-la…


Sai da borda do ribeiro, seco e sujo, dei uma corrida pelo campo e fui onde, antes, estavam os pessegueiros das minhas sobremesas. De pessegueiros nada, como era de esperar, mas o canavial lá está. E sem a abertura para passar para o outro lado da levada que por ali passa. Raras vezes com água… sobretudo este ano em que a água escasseia.


No entanto, mais ao lado, mantinha-se aberta uma outra passagem. Seca, claro. Por onde passámos os dois, com ajudas mútuas.

(continua)







quarta-feira, setembro 14, 2005

agora, agora, aqui, grito

agora,
agora!
aqui!,
abomino o pragmatismo,
o "realismo",
o "faz-se o que se pode" (não me podam!).

Solenemente,
declaro-me utópico,
incuravelmente.

Chamem-nos loucos
... como aos poetas.

terça-feira, setembro 13, 2005

De classe

Ido do Zambujal, o trânsito infernal à entrada de Lisboa impediu-me de chegar a horas à apresentação da candidatura de Jerónimo de Sousa à Presidência da República, embora ainda tenha chegado a tempo de estar no final da impressionantemente concorrida e entusiática iniciativa.
Em compensação, ouvi na rádio parte da intervenção do Jerónimo e um comentário muito esclarecedor do sr. Carlos Magno.
Segundo este, o discurso que ouvia estava muito bem escrito, milimetricamente disse ele, e tinha-o sido, decerto!, por intelectuais do Partido para operário ler, coisa que este fazia muito bem.
Isto ouvi eu com estes dois que ladeia a minha cabecinha.
E está dito: Jerónimo de Sousa será um operário que sabe ler, mas não se exagere... não pode saber escrever. O que será uma evidência para o sr. Carlos Magno, que também deve ter dúvidas se um operário pensará.
É de classe!

O facto, que custa a aceitar, é que Jerónimo de Sousa, operário que é, além de ser de (outra) classe, tem classe!

A propósito de

direitos humanos seria interessante confrontar listas dos direitos que cada um considera serem humanos.
Por mim, e para mim, tenho uma que vou actualizando com a ilustração e a vivência de muitos exemplos.

Quem foi que pediu para se falar de direitos humanos?

Há sete anos, cinco cubanos que se tinham infiltrado em grupos que, em Miami, preparam constantes acções e provocações contra Cuba, tendo conseguido detectar algumas dessas acções, resolveram informar o FBI, autoridade policial-judiciária dos Estados Unidos, de outras acções, de natureza terrorista, que estavam em preparação.
Pois o FBI prendeu os 5 cubanos, acusou-os de espionagem, foram sujeitos a julgamento e tiveram penas pesadíssimas, algumas até ridículas porque teriam os condenados de viver várias vidas para as poderem cumprir.~
E tão ridícula e incongruente foi esse processo e julgamento que, passados sete anos de prisão - em condições que em nada afligem os que acusam outros de assobiar para o ar quando se fala de direitos humanos -, um tribunal dos Estados Unidos, de instância superior, acaba de os considerar nulos e tudo deverá recomeçar...
O que não impede que os 5 cubanos, há 7 anos presos, continuem presos pelas autoridades a quem denunciaram actos terroristas.

segunda-feira, setembro 12, 2005

Os verdes que se multiplicam no vermelho que cresce



Olho os verdes pelo vidro da janela
onde há pouco encostei a testa.

No vermelho da raiva que cresce,
– porque morreu um querido amigo e camarada de 19 anos,
porque os governos são o que são,
porque o mundo está o que está – ,
a tranquilidade dos verdes da esperança que se multiplica
na luta que continua.



Zambujal,
12.09.2005

Os verdes que se multiplicam


Olho os verdes:
logo aqui, o verde da hera,
o verde da parreira,
o verde dos ramitos do zambujo;
já além, o verde da oliveira
o verde do plátano
o verde dos chorões;
pelos meios, espreitam manchas do verde da relva,
ao longe, o verde das azinheiras
e o verde de todos os arbustos
na ravina que sobe para o azul do céu;
e uma lagartixa corre
dizendo que também verde é,
e que viva está
e que não precisa do vento para mexer.

Os olhos perdem-se em tantos verdes multiplicados.



Zambujal,
12.09.2005



sábado, setembro 10, 2005

Lágrimas e punhos cerrados e erguidos pelo Flávio

Também aqui, neste blog que é o meu, que é o pessoal, quero deixar o que escrevi esta manhã, logo que me chegou a notícia, e já depois de ter chorado abraçado ao pai do Flávio.

O dia começou com a notícia brutal: morreu o Flávio!
A notícia que não podia ser surpresa, que não era inesperada, mas que foi brutal.
A notícia que nos deixa perplexos, a olhar para os longes, contendo ou desatando as lágrimas. Como é possível que isto seja verdade?!
O Flávio tinha 19 anos, tinha a força dessa idade que, nele, era também uma incomensurável vontade de saber e de participar, uma delicadeza e uma humildade nunca servil que chegavam a enternecer.
Conheci-o, há uns 5 anos, numa sessão no liceu em que fui falar não sei de quê. Ele interpelou-me, com convicção e sem floreados. Depois, quis continuar a conversa, quis saber mais e mais coisas. E a conversa continuou até hoje de manhã. Até esta notícia brutal que começou o dia.
Trabalhava, sempre o conheci a trabalhar – num talho, em Fátima –, e tinha um calmo orgulho em ser trabalhador. Estudava, agora à noite, com vontade de saber mais, sempre mais.
Tinha 19 anos, o Flávio. O meu, o nosso camarada. O meu “neto” em “Somos todos netos de Abril”.
Não foi surpresa a notícia. Surpresa tivemos quando soubemos da ida ao hospital, quando fomos sabendo da doença, da impotência que em nós crescia, da desesperança, do desespero que leva a não querer acreditar até à notícia brutal.
O Flávio!… que não tivemos connosco na Festa do Avante!, mas que esteve em nós, dentro de nós, durante a Festa do Avante!. Que está nas nossas listas. E nelas ficará, estimulando à luta, agora também pela sua memória.
Já nos faz tanta falta o seu sorriso tímido e bom!

PASSEIOS À VOLTA DA CASA E DA MEMÓRIA - Itinerário 1 - 3

(continuação)

Chegámos à primeira encruzilhada. E é nas que se têm de tomar decisões.

Desta vez, vinha tomada a decisão, porque era já o itinerário 1 antes de começar a ser percorrido.
Nem para a direita, nem para a esquerda da Rua da Terra Fria.
Em frente,



em frente, pelo Beco do ribeiro, que não é o nome próprio que nosso é, e por isso vai sem maiúscula, mas o do ribeiro que passava na Ruçadita e aonde nos leva o beco.

Da sombra, vem a voz e a impaciência, acompanhando gestos de ginasticar o corpo parado: “Então, vamos ou não?, assim perco o ritmo…”
E lá vamos. Não sem uma paragem para admirar as pedras que formam a segurança de um poço:

Antes do beco virar à esquerda, mais pedras, num renque que serve de estrema e demarca uma serventia… de que eu me servia para ir aos pêssegos, em uma das duas nossas propriedades da “Terra Fria”, que assim se chama aquele pedaço de terra que deu o nome à rua já deixada para trás e a uma travessa.


(continua)

Sobre Cuba: corrigindo imprecisões e falsidades

Não era para isto que criei que este blog. Mas terá de ser também para isto.
A propósito (embora muito a despropósito…) da divulgação de uma notícia que me pareceu interessante, vinda de Cuba, disseram-se, neste espaço, falsidades, imprecisões, fizeram-se acusações infundadas, irresponsáveis, levianas, mentirosas. A partir da superiodade e infantilidade de etiquetar "provocação infantil" sem mais o que foi uma oferta responsável e séria.
Não posso deixar de (tentar) corrigir algumas das coisas escritas.
O relatório do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) sobre o “desenvolvimento humano” publica-se há anos para procurar completar os habituais indicadores de crescimento/desenvolvimento económico.
O deste ano foi divulgado na semana passada e, nele, anoto duas informações:
* que Portugal continua a ser o último dos 15 membros da UE anteriores ao último alargamento e foi ultrapassado pelo novo Estado-membro Eslovénia;
* que Cuba mantém o 52º lugar de 177 países, entre os 57 considerados de “elevado desenvolvimento humano”, muito acima dos seus vizinhos latino-americanos Brasil, Colômbia, Venezuela, Peru, Paraguai, Granada, República Dominicana, Belize, Equador, El Salvador, Jamaica, Nicarágua, Bolívia, Guatemala, entre os países de "desenvolvimento humano médio", e de Haiti que está entre os de “desenvolvimento humano baixo”, no meio de 31 países de África.
Espero a chegada do volume a Ourém desse relatório para, como todos os anos, melhor estudar a situação actualizada.

No entanto, no relatório 2004, que a celeuma aqui levantada me obrigou a ir consultar, não há
ordenamento por indicadores de saúde mas há, entre estes, alguns muito elucidativos e que mostram como quem aqui veio atacar Cuba não hesita em dizer não importa o quê, decerto ”informado” pelos “orgãos de informação ocidentais que têm o escrutínio dos seus consumidores livres” (!) e não por essas fontes suspeitas como para ele decerto são as Nações Unidas e o seu PNUD.
Apenas uns pormenores:
* só a Itália tem, nos 177 países, maior nº de médicos por 100.000 habitantes (607) que Cuba (596) – Portugal tem 318 e os EUA 279;
* em Cuba, segundo os últimos nºs. de que disponho, 99% das crianças de um ano são vacinadas contra a tuberculose e 98% contra o sarampo, enquanto que em Portugal só o são 82% e 87%, respectivamente;
* em Cuba, por 100.000 pessoas há 14 casos de tuberculose e 93% são curados, em Portugal, esses valores são 37 e 78%, respectivamente.



Liberdade Cultural
num Mundo Diversificado

Muito mais poderia acrescentar, mas reservo-me para um trabalho de actualização logo que dispuser do relatório integral 2005 e não de extractos de jornais.

sexta-feira, setembro 09, 2005

Uma notícia pouco divulgada...

Cuba ofrece 1 100 médicos a Estados Unidos.
Maria Salomé Campanioni
Redacción Digital
Septiembre 2 del 2005, 8:00pm

En un acto de solidaridad y respeto al pueblo de Estados Unidos, Cuba ofreció hoy el envío de más de mil 100 especialistas de Medicina General Integral, quienes podrían llegar en horas de la mañana de este sábado a Estados Unidos, para apoyar en la atención sanitaria a los damnificados por el paso del huracán Katrina. Tal afirmación fue realizada en una comparecencia televisada por el Presidente cubano Fidel Castro, quien destacó que el país está preparado y listo para enviar inicialmente 100 profesionales de la salud, para el aeropuerto internacional de Houston, Texas, el más cercano a la región donde aconteció la tragedia provocada por el huracán Katrina y ampliamente divulgado.


Também servimos para isto. Para dar a conhecer o que é silenciado.
Este gesto, que foi quase ignorado, parece-me significativo. Aliás, a exemplo de outros que Cuba tem feito ao longo dos anos, numa postura de solidariedade efectiva, real, para com os povos. Além de revelar - este gesto como os idênticos - o grande potencial que Cuba conseguiu criar no plano da saúde pública.

quarta-feira, setembro 07, 2005

PASSEIOS À VOLTA DA CASA E DA MEMÓRIA - Itinerário 1 - 2

(continuação)

Um “bom dia, vizinho” atirado para o longe, onde chegou a voz que o tractor (ainda) não abafou e de onde veio a resposta, a saudação, o sinal da convivência.



À direita do nosso caminho, a pequena encosta e mata do Malhão que, há muitos anos, foi lugar de mistérios para mim, e onde os pirilampos acendem luzes quando voltamos do Xico Santo Amaro.


Mas à esquerda, lá ao fundo, está uma das minhas referências. Uma das “herdades” onde o meu pai me levava nas suas “voltas de proprietário”.


Era a mais pequena de todas, a Ruçadita, onde – dizia o meu pai a brincar – um burro deitado ficaria com o rabo de fora. Ficava, a terra que nossa era, mesmo ao pé do ribeiro que ali passa e vai alimentar, quando água leva, a ribeira de Seiça, depois de a outras se ir juntando, depois o Nabão, depois o Zêzere até ao Tejo e ao mar, se a geografia não está de todo esquecida.

Em frente, como tinha de ser, os Castelos. Lá ao longe, como de quase todos os lados… menos das vistas da casa.

Chegamos à primeira encruzilhada. E é nelas que se tomam decisões.

(continua)

Conhece o gato?

"(...) Eu não.
Eu não concordo.
Eu não conheço o gato.
Eu tudo sei,
a vida e o seu arquipélago,
o mar e a cidade incalculável,
a botânica,
o gineceu com seus extravios,
o por e o menos da matemática,
as depressões vulcânicas do mundo,
a pele irreal do crocodilo,
a bondade ignorada do bombeiro,
o atavismo azul do sacerdote,
mas não posso decifrar um gato.
Minha razão resvalou na sua indiferença (...)

(excerto de ODE AO GATO, de PABLO NERUDA)







... e onde é que eu me sento
para escrever?

terça-feira, setembro 06, 2005

PASSEIOS À VOLTA DA CASA E DA MEMÓRIA - Itinerário 1 - 1

Vou aqui registar – porque aqui se trata de registos – os nossos passeios à volta da casa e da memória.

Antes de mais, primeiro de todos os registos… A CASA, a casa que é o começo e o fim de tudo. Também dos passeios.

Esta casa é raiz e semente.
Porque aqui nasceu o meu pai,




porque aqui me nascem memórias e os projectos,
porque aqui começam e terminam os passeios.



Itinerário 1:


Descidos os degraus do pátio, contornamos a “garagem” e, aberta a cancela, já na estrada, voltamos à direita.

É curto o caminho até à primeira curva, acompanhando o muro do jardim.

Logo entramos na rua que tem o nome sempre por mim lembrado.

O piso é de terra batida. Aqui não chegou o alcatrão. Talvez para me “castigarem” por ser como sou, ou o que sou. Deste “castigo”, rio. Dá-me gozo. Até porque prefiro assim a “rua” por onde caminhamos.
Logo ali, uma figueira não aguentou o peso de tanta idade e de tanto figo.


A Zé ainda a tentou aliviar mas já foi tarde, embora continue a sua meritória obra de aliviar figueiras pelos caminhos…

(continua)