quarta-feira, junho 30, 2010

Acompanhando o folhetim Telecom...

1. "O Conselho de Administração da Portugal Telecom reuniu e convocou uma Assembleia Geral de accionistas para deliberar sobre a aprovação ou rejeição da oferta de aquisição de 50% da Brasilcel por 6,5 mil milhões de euros ou um preço mais elevado que viesse eventualmente a ser oferecido pela Telefónica antes da Assembleia Geral" (transcrevo sic o que li, mesmo que não esteja tudo certinho... mas os números, nestas contas, às vezes aparecem embrulhados).
2. Depois de muita manobra, e de muito jogo considerado sujo (pelo "adversário", de uma parte e de outra... sendo, as duas partes, partes do mesmo), a Telefónica, à última hora, aumentou a oferta de compra em 10%, isto é, passou de 6,5 mil milhões de euros para 7,15 mil milhões de euros, o que teria mudado a disposição de alguns accionistas, se é que não houve negociações paralelas ou por debaixo da mesa (da Assembleia Geral)...
3. Assim, dos 62% do capital accionista que votou - entre eles, os accionistas ditos nacionais, BES, Caixa Geral dos Depósitos, Ongoing, Visabeira e Controlinveste - 74% votou a favor da proposta de compra da Telefónica (ou a favor da venda à Telefónica) e 26% dos presentes votaram contra.
4. O governo fez uso da chamada "golden share", e vetou a operação.
5. O casino não fechou!... ele há a Telefónica, ele há a Comissão Europeia, ele há os accionistas, ele há um "ver se te avias" de tremenda ofensiva ideológica dos mercados, como reis e senhores, de ataque às soberanias nacionais como obsolescências !
6. Importaria, entretanto, contra-atacar, lembrando só - para começar! - que tudo o que está a, e vai, acontecer tem o seu início em privatizações, em entrega a privados - accionistas! - de um património que deveria ser público, e de que aqueles entendem poder dispor como coisa sua que passou a ser e de que, como tal, tudo podem fazer - acham eles - sem quaisquer reservas, quer de serviço público, quer de estratégias nacionais.

Sobre o chumbo à aquisição pela Telefónica da participação da PT na Vivo

Nota do Gabinete de Imprensa do PCP

Sobre o chumbo à aquisição pela Telefónica
da participação da PT na Vivo
30 de Junho de 2010
O PCP considera que a utilização da Golden Share no chumbo da aquisição pela Telefónica da participação da PT na Vivo, confirma a necessidade de uma política que defenda os interesses e a economia nacional, que garanta um sector das telecomunicações eficiente, moderno e público, com custos acessíveis e como factor de desenvolvimento equilibrado do país.

A operação que decorreu ao longo das últimas semanas em redor da Portugal Telecom - inserida no actual quadro de concentração e acumulação capitalista, com a movimentação de elevadas quantias nos mercados de capitais e que é um exemplo concreto dos efeitos da actual crise do capitalismo -, com a ameaça de aquisição pela Telefónica (espanhola) da participação da PT na Vivo (brasileira), tornou visível a actual sujeição dos interesses nacionais às aspirações de accionistas, especuladores e grupos económicos e o quanto perigosas podem ser as consequências para o nosso país do processo de privatização de empresas e sectores básicos e estratégicos que tem sido seguida por diferentes governos.

A decisão do Governo, de dar orientação à CGD enquanto accionista e de utilizar a chamada Golden Share para impedir a concretização no imediato deste negócio não anula o facto da ausência de instrumentos nacionais para definir e concretizar uma estratégia para a PT de acordo com os interesses e necessidades do país, para proteger áreas e sectores decisivos para a investigação e desenvolvimento no plano das telecomunicações, para garantir e criar emprego com direitos, para criar riqueza e prestar serviços essenciais às populações e à nossa economia.

Na verdade a PT é hoje um grupo, cuja propriedade se encontra em mais de 75% na posse do grande capital estrangeiro, e onde, a presença do Estado português, está reduzida a pouco mais de 7% por via da CGD. A sua estratégia tem sido subordinada somente ao objectivo do lucro (só entre 2007-2009 a empresa alcançou mais de 2300 milhões de euros de lucros) para os seus accionistas, e que trouxe como consequências o aumento da dívida da empresa ( mais de 7700 milhões de euros decorrentes na sua maioria de investimentos feitos no estrangeiro), a quebra do investimento no território nacional, a degradação das condições de trabalho dos seus trabalhadores e a transferência para o estrangeiro dos centros de decisão estratégicos nacionais.

Esta decisão – a do chumbo por via da utilização da Golden Share – vem confirmar também o papel desempenhado pela União Europeia quando procura impedir os diferentes Estados da posse destes instrumentos, confirmando a sua intervenção ao serviço do grande capital transnacional, bem como, a necessidade de impedir que tal objectivo venha a ser concretizado.

O PCP alerta para o facto de, tal como quando foi chumbada a OPA da SONAE sobre a PT, sejam agora os trabalhadores e o Estado português a suportar a insaciável sede de lucros do conjunto dos accionistas privados que viram rejeitadas as suas pretensões imediatas.

O PCP entende que esta operação torna mais evidente a necessidade de concretizar uma outra política que defenda os interesses e a economia nacional, que garanta um sector das telecomunicações, eficiente, moderno e público que dê resposta às novas necessidades e incorpore os avanços e possibilidades abertas pelo desenvolvimento técnico e cientifico, com custos acessíveis, em condições de igualdade em todo o território nacional, como direito dos utentes e factor de desenvolvimento equilibrado do país, da produção e da soberania nacional. Uma política que partindo das actuais posições do Estado, onde se inclui a Golden Share, garanta o controlo público do grupo PT.

Equipa que não ganha... perde (ou faz perder) a cabeça

Tenho de falar do que toda a gente (me) fala!
E, ao fim e ao resto, só venho dizer o que tinha decidido dizer se Portugal tivesse ganho à Espanha.
(estou a falar de futebol e não do jogo PT-Telefónica...)
Então, o que eu tinha decidido escrever era que:
apesar de termos ganho por causa daquele remate do Cristiano, ou daquela "habilidade" do Liedson, ou daquela cabeçada do Hugo (eles jogaram?), não havia razão para festa,
que os espanhóis tinham tido um esmagador tempo de posse de bola nos pézinhos que são deles e que nós só a tinhamos cheirado (62%/38% de posse de bola!),
que aquela adaptação do Ricardo Costa não se percebe,
insistia na evidência de que colocação do Pepe em campo tinha sido inexplicável porque o homem não podia ter, de modo algum, ritmo de jogo depois da grave lesão e da longa paragem.
Diria também que, não percebendo nada de futebol, porque disso sabem outros que para isso são principescamente pagos e também, ao que parece e se esperava, a minha vizinha ali de Fátima, depois da vitória sobre os outros ibéricos iria acompanhar o resto das transmissões da "equipa de todos nós" (oh! Queirós!...) com patriótico interesse, mas sem qualquer segurança nas forças e oções de quem nos representava até ao regresso a casa. Com ou sem copa, como dizem os brasileiros que são os bons nessa coisa de jogar e ganhar taças.
Assim... não digo nada. E estou cansado de ouvir outros dizerem aquilo que dizem agora porque o tal de Villa meteu aquele golo com a permissão de um nº 11 equipado de português (ainda não vi quem era) mas que, com outro fortuito resultado, estariam a endeusar Eduardos e mais nossos compatriotas (nem todos o são...) pela glória pátria.
E não digo mais nada! (o que escrevi é um "suponhamos" que ganhámos a Espanha)
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Perdão, só mais uma coisinha à maneira de "casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão": "equipa que não ganha... perde (ou faz perder) a cabeça!". Já escrevi isto? Em título?
'Tá bem. Recidivo.

Reflexões lentas - o serviço público e as empresas - 7 (penúltima e síntese)

Enquanto hoje se decide a (não) venda da Vivo brasileira à Telefónica espanhola (*), que é sua co-proprietária na Portugal Telecom, depois de espectaculares golpes e golpaças, de negócios e negociatas, estou mesmo com pressa de acabar esta série de reflexões em que me meti. Não que as considere inúteis, não que não as vá continuar... mas, por agora e aqui, chega!
Assim, antes da última mensagem, que será sobre duas “empresas de serviço público” muito especiais – os CTT e a Caixa Geral dos Depósitos – deixo uma reflexão de resumo sobre as quatro já referidas rapidamente, embora lentamente na reflexão sobre cada uma, cada uma com a sua especificidade embora todas parecendo, mais do primas, gémeas-entre-si.
E o que quero sublinhar na rápida reflexão de resumo (e lenta…) são duas coisas:

  1. todas elas abundam em áreas de negócio, em segmentos de negócio, em… negócios, colocando num plano secundário o que passou a ser um pretexto para os negócios – o abastecimento de água, o fornecimento de electricidade, de energia, as telecomunicações, aquilo que o “cidadão comum” delas esperaria em vez da… "sustentabilidade" e outras palavras e frases deste teor;
  2. esses negócios (áreas, segmentos, o que lhes chamem) assentam em esquemas e “engenharias” financeiras, do que resulta o montante global actual de perto de 30 mil milhões de dívida, só para as quatro empresas, ou quatro grupos, o que é número impressionante e pouco referido quando se fala, ou escreve, ou comenta a dívida do Estado português.

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(*) - hoje, a declaração solene do sr. Passos Coelho, conselheiral e tirando primos da cartola, é de um oportunismo de estarrecer e que deveria esclarecer sobre a qualidade destes políticos desta política!

terça-feira, junho 29, 2010

Divagações obrigadas a mote

«Há uma tremenda ofensiva ideológica para a qual “eles” convocaram tudo e todos!»
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Há uma tremenda ofensiva contra nós (contra “nós” e os outros-que-nós-são)! Por isso, uma ofensiva contra-ideológica, demonstrando duas circunstâncias que definem o momento histórico:
  • A importância das massas, numa democracia como esta, que reflecte o estádio da luta de classes;
  • a necessidade "deles" (da classe dominante) de deformar, sob a capa da informação, usando todos os meios adquiridos pela/para a Humanidade.

Numa síntese: não podendo menosprezar a força das massas, desprezam as massas através da sua manipulação por deformação sistemática e ideológica por vias dos meios de informação, de que não as podem afastar e que são, também, seus instrumentos e objectos de negócio.
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E nós?

Como em qualquer estádio da luta de classe, mas talvez mais evidentemente neste de que somos contemporâneos neste quotidiano histórico,
temos que reforçar tremendamente a nossa preparação ideológica! Não há reforço nosso sem reforço ideológico, sem estudo e divulgação, sem trabalho colectivo, condição primeira da ideologia nossa.
Ninguém, nenhum camarada, pode dispensar-se da permanente preparação ideológica. Só com este reforço se poderá apreender a essência da realidade (ou aproximar da sua apreensão), e se pode ajudar a, colectivamente, transformar a realidade no sentido da sua humanização, vencendo o que assenta na manutenção e reforço do que é desumano porque se baseia no meu-que-apropriei e que permite que te explore como o outro-não-eu-que-para-mim-és.
A formação, a preparação que ginastica e reforça a ideologia, não se compartimenta e faseia. Não são (só) acções pontuais, por muitas e colectivas que sejam, não são (só) cursos e diplomas de habilitação, por mais bem programados e animados que sejam, não é (só) a "escola" que imprescindível é que tenhamos, por mais bem estruturada; tem de ser, também e sempre, a contínua reflexão e interpretação individual, o trabalho… “de casa”, no local de trabalho e de rua!
Individual e com os outros-que-nós-somos.

Tempo parado?

Pouco passa das 14 horas.
Aterrei há pouco, ou seja, desci à minha terra, pousei no meu chão.
Depois, fui almoçar ali, ao restaurante mais vizinho.
A ouvir a televisão, a conversar com quem estava, interiorizou-se-me a sensação de estar num país suspenso - que digo eu?!, numa península suspensa... -, à espera das 19.30 cá, das 20.30 do lado de lá da fronteira.
Mas há a greve na Grécia, o metro em Madrid, há tudo o que por aqui se engendra no quadro do "lançamento " da alternância passo a passo. Há a vida que se quer colocar entre parenteses, em pé de página, em roda-pé.
Se vou ver o jogo? Claro que sim.
Porque sim. E também porque o modo como vai correr a hora e meia de um simples jogo de futebol vai ser importante para o que/como vai acontecer nas horas e dias que se seguem.
Entretanto, vou passando uns apontamentos "a limpo".

Reflexões lentas - o serviço público e as empresas - 6 (telecomunicaões)

Mais uma peça para este puzzle. Das últimas do quadro que ficará sempre incompleto.

Hoje, mais que o histerizado encontro de futebol entre Portugal e a Espanha, é a véspera de uma assembleia-geral em que a “questão ibérica” é tema dominante e bem revelador do que são estas empresas que, aparentemente, teriam uma função social de prestar serviço público mas que, sobretudo, são “palco” de grandes manobras na área de negócios e especulação financeira.
Amanhã, a Portugal Telecom (PT), que se define como uma operadora global de telecomunicações, líder a nível nacional em todos os sectores em que actua, e se assume como a entidade portuguesa com maior projecção nacional e internacional, vai reunir accionistas para responder a uma ofensiva de um dos seus, da Telefónica espanhola, com contornos e intensidade shakespereanos.

Sr. Zeinal Bava falou (e fala) de “traição” castelhana, o grupo espanhol usou todos os meios que o jogo do monopólio ensina na idade de torcer o pepino, justificados pelo fim do negócio em "vale tudo", Bava dramatizou, aparece como um herói da resistência, não lhe faltam apoios, como ontem surgiu um oportuno da CMVM. Como dizia, num semanário de fim de semana que lhe deu páginas de “tempo de antena”, “há acionistas que gostam da composição do negócio da PT atual. E para eles é um veículo muito atrativo de investimento”, confirmando à exaustão que o que o preocupa “é fazer o melhor para os acionistas”.
É isto, de parte a parte: negócio, atracção de investimento, accionistas, jogos de poder e especulação!

Antes que se pense que tenho alguma posição a tomar entre as partes em litígio (eu?! que nem uma acçãozita tenho, quis, quero, e quererei ter…), mais show-business que real, apenas deixo este registo, com a transcrição desta prosa elucidativa do "relatório de governo da sociedade de 2009"

“As questões relativas ao governo societário têm estado nas últimas duas décadas, crescentemente no centro das atenções e reflexão dos meios empresariais e financeiros internacionais, com especial intensidade em momentos em que a exsurgência de fenómenos negativos de grande dimensão e impacto público tem conduzido a uma redobrada procura de aperfeiçoamento ou substituição de mecanismos existentes, ou até ensaio evolutivo de novas soluções.”

e o acrescento de um dado que venho juntando sobre estas empresas: a dívida bruta da PT ultrapassa 7 mil milhões de euros, e é endividando-se que, empresa a empresa, se alargam as áreas de negócio destas empresas.

segunda-feira, junho 28, 2010

Até amanhã... hors-serie ou ad-hoc

Amanhã... voltarei a casa, ao blog, a rotinas.
Desde quinta que ando por fora, em andanças, de assembleia municipal, de "curso" na Atalaia, de Comité Central. Amanhã... voltarei aqui.
Mas, para hoje, ainda deixo uns apontamentos rascunhados, e agora passados "a limpo", depois de um sábado, um dia inteiro, "de formação", de trabalho colectivo ideológico em convívio camarada.
De manhã, filosofia (O Capital-materialismo dialéctico); de tarde, economia (O Capital-materialismo histórico)
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Vamos a ver se percebi e se me faço perceber…
Aquela cadeira!
Bem… filosoficamente, aquela cadeira, em abstracto, são aquela placa de contraplacado, aquele espaldar também de contraplacado, aquela estrutura metálica com quatro pernas com sapatas de plástico, aqueles traços de uma totalidade; em concreto, aquela cadeira é uma totalidade das suas determinações, é tudo o que levou a que aquela placa de contraplacado, aquele espaldar também em contraplacado, aquela estrutura metálica com quatro pernas com sapatas de plástico, seja aquela cadeira.
Por outro lado… economicamente, aquela cadeira tem valor, o tempo de trabalho socialmente necessário para que aquela cadeira exista, e que é o seu valor de troca, e tem, também, valor de uso, do uso que alguém lhe der, nela se sentando como se espera que seja o uso que lhe venha a ser dado.
Mas é preciso acrescentar, para fazer a ligação da economia à filosofia, sendo esta a integradora do saber, que o valor de troca não é o mesmo que o valor de uso, e que o valor de troca e o valor de uso constituem uma unidade dialéctica!
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E, por vezes, apetece-me dar, àquela cadeira (e a outras), um certo e determinado valor de uso: o de a partir nos costados de uns fulanos que eu cá sei… e que como economistas são tratados.

sábado, junho 26, 2010

Reflexões lentas - o serviço público e as empresas - 5 (energia)

Não tenho a intenção de estar a apresentar estudos sobre empresas ligadas à prestação do que era conhecido como serviços públicos. São meras informações, ao alcance de todos (os que tenham acesso à internet…), escollendo alguns dados que relevam o facto de esses ainda chamados “serviços públicos” (ou com designações próximas), ainda que continuando explicitamente a ser considerados nos seus objectos sociais, parecem muito afastados das finalidades reais das empresas muito mais de ordem financeira, enquanto áreas de negócios.
Assim, a Galp, sendo, hoje, (como se define) “o único grupo integrado de produtos petrolíferos e gás natural de Portugal, com actividades que se estendem desde a exploração e produção de petróleo e gás natural, à refinação e distribuição de produtos petrolíferos, à distribuição e venda de gás natural e à geração de energia eléctrica" é (também por sua definição) “a Galp Energia SGPS, S.A. (que) é uma sociedade emitente de acções que se encontram admitidas à negociação no mercado de cotações oficiais da NYSE Euronext. De acordo com as melhores práticas o modelo de governo assegura um conjunto de órgãos sociais com competências deliberativas, executivas e de fiscalização.”
«Descrição dos principais accionistas
As participações qualificadas no capital social da Galp Energia, foram calculadas de acordo com o artigo 16º e 20.º do Código dos Valores Mobiliários. Segundo estes artigo, os accionistas da Galp Energia têm que notificar a Empresa sempre que as suas participações atinjam, ultrapassem ou se reduzam em relação a determinados limites. (...)

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Participações Qualificadas
Amorim Energia, B.V. Países Baixos - 276.472.161 acções 33,34%
Caixa Geral de Depósitos Portugal - 8.292.510 acções 1,00%
Eni, S.p.A. Itália - 276.472.161 acções 33,34%
Parpública - Part. Públicas Portugal - 58.079.514 acções 7,00%
Free-float
Restantes accionistas - 209.934.289 acções 25,32%
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Os seus segmentos de negócio são, como se pode ler:
  • Exploração & Produção
  • Refinação & Distribuição
  • Gas & Power

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As vendas trimestrais da Galp são de cerca de 3 mil milhões de euros e a sua dívida total era, em 31 de Março de 2010, de 2, 449 mil milhões de euros (eu vou somando...).

sexta-feira, junho 25, 2010

Reflexões lentas - o serviço público e as empresas - 4 (luz)

Depois da água, vejamos o caso da luz. Ou melhor, uns apontamentos sobre a empresa que, a juízo do cidadão comum, existe para o serviço público de lhe fornecer luz.
É mais uma peça do puzzle, é a entidade descendente das CRGE - Companhias Reunidas de Gás e Electricidade - de outros tempos, e que estavam fora do âmbito das actividades capitalistas. O que não quer dizer que não tivessem de cumprir princípios de racionalidade económica como os de usar o menor possível volume/valor de meios para alcançar um pré-determinado volume/valor de produto e/ou, com um pré-determinado volume/valor de meios, conseguir o volume/valor maior possível de um produto.
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Pois a EDP, S.A. é uma “sociedade aberta”, tendo como accionistas, segundo a última informação, a Parapública, SGPS, S.A (20%), a Iberdrola – Participações, SGPS, S.A. (7%), a, Caixa Geral dos Depósitos, a Caja de Ahorros de Astúrias e José de Mello, SGPS, S.A. ao nível dos 5% e mais accionistas com nomes de Senfora, SARL, BlackRock Inc., BCP, BES, Sonatrach.
A sua actividade define-se em «unidades de negócio», de produção e distribuição de electricidade e de gás.
Com um volume de negócios anual na ordem dos 12 mil milhões de euros (3,5 mil milhões no 1º trimestre de 2010), confessa que “… sendo um dos maiores emissores de dívida em Portugal, a EDP recorre regularmente ao mercado obrigacionista, beneficiando da qualidade do risco de crédito e da confiança estabelecida com a comunidade de investidores, através de um elevado nível de disclosure e transparência. A EDP procura ainda obter financiamento na moeda local de cada área geográfica (Euros na Península Ibérica, Dólares nos Estados Unidos da América e Reais no Brasil). A estrutura do financiamento baseia-se em obrigações para financiamentos de médio longo prazo, dívida bancária para back-up e papel comercial para gestão de tesouraria e de liquidez.»
Daqui resulta que a sua dívida de curto prazo é, actualmente, de cerca de 2,5 mil milhões de euros e a de médio/longo prazo de 13,6 mil milhões de euros.
Ah!, tem mais de 12.000 trabalhadores ao serviço... e «a missão da empresa assenta em três vectores fundamentais: a criação de valor para o accionista, a orientação para o cliente e a aposta no potencial humano da empresa, tendo em vista ser o mais competitivo e eficiente operador de electricidade e gás da Península Ibérica».
Ora aqui está!

A informação mais actual e importante sobre a EDP:
cotação edp 25.Junho.2010 10:50

€2,476

PSI20

7.163,60
-0,84%

quinta-feira, junho 24, 2010

Delírios, insistências e dislates - 16

22. - «... utilizador, pagador... (mais isto, mais aquilo) o princípio do utilizador, pagador... (mais aquilo, mais isto) o utilizador, pagador...»
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Há assim umas frases que caem bem, que têm impacto. E que, por isso, se repetem até à exaustão. Nestes dias, por causa das SCUTs e dos chips e correlativos, ouvi esta frase n vezes (mas um n muito grande!)
Ora, fazer desta fórmula uma verdade universal, repetida insistentemente, e com base nela justificar o que quer que seja, é inaceitável, é transformar tudo em mercadoria que tem que sér paga, pelo que só a ela pode ter acesso quem tem com que pague. Isto em 2010, quando a Humanidade já dispõe de tanta conquista que, tendo um custo, não tem que ter um preço porque se tornou num direito, este sim universal.
Ah! e há umas coisas chamadas solidariedade, coesão e parecidas, que pouco se dizem e muito dizem.

Reflexões lentas - o serviço público e as empresas - 3 (água)

Nestas reflexões, sinto ter entrado numa espécie de labirinto, ou de monstruosa teia de aranha… não!, talvez a melhor imagem seja a de estar perante um puzzle gigantesco, e ter começado a ver, em zoom, algumas das suas peças minúsculas. Minúsculas? Sim... mas enormes. Tudo depende das escalas que usemos.
Nesta série, não vou deixar mais do que alguns dados, que pistas, que informações sobre coisas do nosso quotidiano mais quotidiano, e no que ele está enredado e enredando-se cada vez mais.
A água. A água é-nos indispensável. Já foi bem livre, não económico. Por isso, o seu acesso, a criação de condições para abastecimento, se processo de "economização", isto é, de transformação em produto, em mercadoria, foi lento, venceu várias etapas, passou inevitavelmente pela de ser objecto de serviço público, fora da óptica do mercado, qual mercadoria cuja preparação e distribuição tivesse a finalidade de acrescer a riqueza individual ou de grupo de uns tantos à custa da exploração de trabalho de muito outros, finalidade inerente ao sistema de relações sociais em que se inseria. Uma espécie de reserva de solidariedade, sem benefícios para uns e sacrifício de outros.
Que vemos hoje?
Diz-nos o grupo de empresas Águas de Portugal (AdP SGPS, S.A.):


Quem Somos
Somos um dos grandes grupos empresariais do sector do Ambiente em Portugal e temos por missão contribuir para a resolução dos problemas nacionais nos domínios de abastecimento de água, de saneamento de águas residuais e de tratamento e valorização de resíduos, num quadro de sustentabilidade económica, financeira, técnica, social e ambiental.

Trabalhamos com o objectivo de proteger e valorizar o ambiente natural e humano: a actividade das empresas do grupo engloba a captação, o tratamento e a distribuição de água para consumo público, observando os mais elevados padrões de qualidade; a recolha, o tratamento e a rejeição de águas residuais urbanas e industriais, incluindo a sua reciclagem e reutilização em condições ambientalmente seguras, e o tratamento e valorização de resíduos sólidos.

A Sustentabilidade na utilização dos recursos naturais e a preservação da água enquanto recurso estratégico essencial à vida, o Equilíbrio e melhoria da qualidade ambiental, a Equidade no acesso aos serviços básicos e a promoção do Bem-estar através da melhoria da qualidade de vida das pessoas são os valores fundamentais do Grupo AdP.
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Diria eu: belo paleio!
Com imagens lindas, cativante.

E… depois?
Depois…
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“áreas de negócio:
• águas,
• ambiente,
• resíduos,
• outros negócios”

“estrutura accionista:

Parpública - Participações Públicas, SGPS, S.A -. 72,2%
Parcaixa, SGPS, S.A. - 19,0%
Direcção Geral do Tesouro (DGT) - 8,8%
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Mais informações:
um capital próprio que ronda os 500 milhões de euros,
uma dívida bancária que duplicou nos últimos 5 anos, ultrapassando, agora, os 2, 5 mil milhões de euros!

quarta-feira, junho 23, 2010

Nos 60 anos do julgamento de Álvaro Cunhal na Boa-Hora






Durante umas horas, nelas se incluíndo o trabalho militante de arranjo e preparação para a iniciativa, aquele edifício-símbolo da repressão fascista foi um espaço político-cultural (repleto!) de enorme significado. De memória e de presente. De luta!

Obrigado, Álvaro. O que nos disseste ontem-2 de Maio de 1950 foi tão justo e tão certeiro como o que nos disseste ontem-22 de Junho de 2010, na leitura dos que então tão longe ainda estavam de ter nascido.


E os momentos culturais foram tão belos e estimulantes!
Obrigado , obrigada, foi a palavra mais dita e mais sentida entre nós. Por sermos o que somos. E aos outros/as o devermos.

Reflexões lentas - o serviço público e as empresas - 2

Que esperam – e desejam – as pessoas, aquelas a quem chamam “cidadão comum”, de entidades ou empresas como a EDP, a AdP, a PT, os CTT?
Que, nas suas actividades, dêem total prioridade, senão exclusividade, ao fornecimento de electricidade, de água, de energia, de condições de comunicação, que lhes satisfaçam essas necessidades adequadamente ao desenvolvimento alcançado pelas forças produtivas.
E, na generalidade, pouco lhes importará, ao cidadão comum, que tais entidades, empresas, ou seja lá o que forem, sejam públicas ou privadas, tenham esta ou aquela forma jurídica. O que poderá ilustrar o atraso na tomada de consciência, por vezes um recuo no caminho para a consciência da necessidade.
O que esperam – e desejam –, os cidadãos comuns, é que essas entidades lhes prestem o serviço público que, presumem, estará na sua razão social.
No entanto, quem olha para os relatórios e outros documentos de tais entidades, fica surpreso. É verdade que está lá a dita razão social, embora nalguns casos não muito explicita..., mas revelam-se, sobretudo, estruturas, corpos que actuam em… áreas de negócio! Porque a sua actual configuração, ou aquela para que o sistema de relações sociais as empurra – e as justifica… porque tudo o resto não teria justificação ou razão de ser – dá prioridade, não ao fornecimento de água, de luz, de electricidade, de energia, à criação de condições de comunicação entre os cidadãos, mas sim ao modo como contribuem para a acumulação de capital-financeiro. Em algumas poucas mãos. Para isso, entrando em intrincados jogos (ou "engenharias")… financeiros, endividando-se(-nos)

Irei ilustrar com alguns casos

terça-feira, junho 22, 2010

Lutos...

Quanto maior é um homem, ou a sua obra – dimensões nem sempre coincidentes e não raro dispares –, dele se fazem vários e desvairados lutos.
Assim está a ser com José Saramago, embora o arrastar da sua doença e o adiar da sua morte tivessem antecipado lutos de alguns. E se o luto é a dor da ausência, de Saramago não há maior luto que o da ausência dos livros que não escreverá.
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Vários e desvairados foram os lutos. E os arremedos de polémicas, e as tentativas de provocação. Algumas polémicas falsas e forçadas, algumas provocações velhas e revelhas, eivadas de invejas pessoais e de viscerais anti-comunismos, dois casos talvez meros incidentes provenientes de interpretações da democracia representativa e dos seus cargos, que vão sendo ocupados por gente bem pouco democrática e nada representativa.
Mas disto não falo e, insisto, de mais terei já falado.
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No entanto, de um outro aspecto quero, ainda e de novo, escrever.
Tirando um excelente (e muito curto) texto de Manuel Gusmão, que é exegético, sobre os caminhos do escritor enquanto escritor caminhando, pareceu-me terem faltado, em tantas palavras a propósito dos lutos por Saramago (não as li todas, claro…), duas reflexões sobre o caminho caminhado pelo rapaz vindo da Azinhaga, a sua formação escolar que se ficou numa escola industrial, a sua enorme cultura feita de vontade de saber e a pulso, sobre o trabalhador de vários ofícios, desde o de serralheiro ao de tradutor e ao de jornalista, sobre como se fez escritor, e como foi ajudado a fazer-se escritor, como foi acompanhado nesses primeiros passos (e livros) de uma profissão que não o era.
Como li – e concordo inteiramente –, Saramago escritor, a sua obra, é uma conquista de Abril de 74. Mas foi, também, uma feliz consequência do processo contra-revolucionário culminado num desgraçado Novembro de 75, sendo certo que nunca se sabe como seriam as coisas se as circunstâncias não tivessem sido as que foram…

Reflexões lentas - o serviço público e as empresas - 1

No tempo do fascismo, que foi nesse que nasci e cresci, o sistema era capitalista e o regime o mais reaccionário que o sistema podia ser. Mas…
Mas a evolução das forças produtivas e a relação de forças sociais, e também uma ideologia paternístico-social (mais de padrasto…), fazia com que houvesse áreas de actividade económica que o regime não incluía dentro da lógica do que hoje se chama economia do mercado e outra coisa não é que capitalismo. Eram os serviço público. Que correspondiam a áreas de direitos essenciais das pessoas, e direitos que se traduziam em acessos gratuitos, ou de simbólico preço, para a população em número crescente. Sem pressas, que o tempo por cá não era para isso.
Havia a CRGE, a CAL e similares, os CTT. Quero eu dizer que as Companhias Reunidas de Gás e Electricidade, a Companhia das Águas de Lisboa e outras, os Correios, Telégrafos e Telefones não eram empresas capitalistas, das que tivessem a finalidade de aumentar o capital investido por accionistas.
Isto digo eu, em jeito simplificado, para dizer que as pessoas esperavam, e justamente, que essas entidades lhes fornecessem bens essenciais, primários, fora da área do lucro. A luz, a electricidade, a luz, o correio, as comunicações.
Protestava-se contra haver tanta gente sem esses direitos com resposta, contra os preços, as deficiências de abastecimento, e lutava-se pela acessibilidade. Na lógica de serviço público, ao serviço de que estavam essas, e algumas outras, entidades.
A reflexão continua

Esta iniciativa, hoje!

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A intervenção de Álvaro Cunhal no tribunal fascista, em 2 de Maio de 1950, pode ser lida em Álvaro Cunhal - Obras Escolhidas II -1947-1964, edições avante!, Lisboa 2008.
Começa a página 89, até à 107, e trata-se da versão mais completa, segundo a nota 41 da edição. Nessa nota se acrescenta que:
«das suas últimas declarações, em 9 de Maio de 1950, apenas chegou até nós um pequeno resumo, com alguns excertos textuais. Entre estes registe-se a conhecida declaração de Álvaro Cunhal de que que "no que me diz pessoalmente respeito, também alguma coisa ficou provada: que como membro do PCP, como filho adoptivo do proletariado, cumpri os meus deveres para com o partido e o meu povo. É isto que interessa que fique provado, porque é só ante o meu partido e o meu povo que respondo pelos meus actos"».

O verdadeiro documento histórico de 2 de Maio divide-se em 6 "pontos a esclarecer":
  • os comunistas portugueses e o movimento operário internacional
  • os comunistas portugueses e a Independência Nacional
  • os comunistas portugueses e o perigo da guerra
  • os comunistas portugueses e a situação económica e cultural do nosso povo
  • os comunistas portugueses e o regime
  • os comunistas portugueses e os seus meios de actuação
O texto da intervenção. de que dificilmente se escolhem excertos tal a dificuldade em retirar uma parte de um todo, terminava assim:

«(...) Contra todos os democratas portugueses e particularmente contra nós, comunistas, são desencadeadas ferozes perseguições e histéricas campanhas de mentiras e calúnias. Para nossa alegria, basta saber que, apesar de tais perseguições e campanhas, o nosso Partido conta com o apoio activo ou a simpatia dos operários, dos camponeses, de todos os trabalhadores honrados, manuais ou intelectuais, da nossa juventude, das mulheres de Portugal, dos povos coloniais. de todos os democratas sinceros.

Vamos ser julgados e certamente condenados. Para nossa alegria basta saber que o nosso povo pensa que se alguém deve ser julgado e condenado por agir contra os interesses do povo e do país, por querer arrastar o Portugal para uma guerra criminosa, por utilizar meios inconstituconais e ilegais, por empregar o terrorismo, esse alguém não somos nós, comunistas. O nosso povo pensa que, se alguém deve ser julgado por tais crimes, então que se sentem os fascistas no banco dos réus, então que se sentem no banco dos réus os actuais governantes da nação e o seu chefe, Salazar.»

segunda-feira, junho 21, 2010

Delírios, euforias e dislates - 15

21. "Obrigado, Bartolomeu Dias, por teres dobrado o Cabo da Boa Esperança!"

Regressava a este recanto, atravessando cerca de metade do comprimento do País (ou da altura, segundo os mapas), quando, ainda na primeira parte da viagem (e do jogo), antes de chegar (e parar) em Lisboa, ao ouvir o que ia passando lá pela África do Sul apanhei com esta.
(É por estas e por outras que, no que respeita a relatos de futebol, prefiro a televisão - mas quantas vezes! -... posso tirar-lhe o som.)
E esta pérola foi na fase de ainda descrente, dubitativa, esperança (cabo?...), fase em que os que foram bestiais na segunda parte (esta já foi num restaurantezeco, com os comensais a fazerem grande alarido histérico-eufórico seis vezes) estavam a ouvir das boas, como bestas que estavam a ser (dizia o mesmo do Bartolomeu Dias).
Esta avaliação dos outros, oscilando em redutora alternância, entre bestiais e bestas dá -me cabo do juízo.
Bom!, isto serve para dizer que voltei a rotinas
(por uns dias...).

Agenda

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Sessão Pública de evocação
dos 60 anos do julgamento de Álvaro Cunhal
Terça-Feira 22 de Junho de 2010, em Lisboa

Sessão Pública de evocação dos 60 anos do julgamento de Álvaro Cunhal, com a leitura de excertos da defesa de Álvaro Cunhal, leitura de poesia de Pablo Neruda e Manuel Gusmão, um momento musical e a apresentação de um CD sobre documentos da prisão de Álvaro Cunhal, pelas 17h30, no Tribunal da Boa-Hora, em Lisboa.
Participa Jerónimo de Sousa, Secretário-Geral do PCP.
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Inserida no âmbito do ciclo de iniciativas “Álvaro Cunhal: uma vida dedicada aos trabalhadores e ao povo, ideal e projecto comunista”.

domingo, junho 20, 2010

Palavras talvez a mais...

O Prémio Nobel da Literatura que fica, indelével, na nossa História nasceu, paradoxalmente, a 25 de Novembro de 1975. Nas circunstâncias que fazem as vidas dos homens, vidas e futuros momento a momento desfeitos e refeitos. O Nobel de que nos orgulhamos terá nascido quando, e porque, nos dias que se seguiram a esse dia duas mãos outras estavam ali, ao lado, e tudo moldaram como se fosse barro levantado do chão e viagem a Portugal.
Depois. Depois, foi o caminho de trabalho e génio, passo a passo, pedra a pedra – "no meio do caminho tinha uma pedra…" e a pedra no meio do caminho daquele homem era um convento de que fez um memorial. Passo a passo, pedra a pedra, livro a livro.
Outras mãos rasgaram vias de reconhecimento, lutaram contra cegueiras e intermitências da morte. Até ao fim. Para o homem e o escritor continuarem vivos, para além do Prémio Nobel.
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Este deveria ser um tempo de silêncio, depois de ter falado quem, em nome do Partido que o homem tomou, disse o que tinha de ser dito sobre o camarada. Mas não será assim, e também as que aí estão acima estarão talvez a mais, hoje, mas - hoje! - não fui capaz de as calar.

Mais um dia...

Mais um dia de estar onde se está - e bem! -, ausente de onde se queria estar, de onde, por esse querer ser tão grande, tão forte, se ESTÁ!
Há dias assim, muitos, mas não era preciso era terem sido assim tão juntos uns aos outros...

sábado, junho 19, 2010

Como será possível?

Mas como será possível não sair hoje de onde estou e estar à tarde no Porto?
Mas ESTAREI!

sexta-feira, junho 18, 2010

Mas como foi possível?!

Como é possível... ter estado onde estive hoje à tarde, e ter estado em Évora?
Mas ESTIVE!

Hoje!

Da amizade, uma enorme saudade!
«Fomos amigos, podemos viver com essa recordação. Outros têm menos.
Um abraço,
José Saramago»
(do último mail que me mandou)

Pelo homem e a sua vida, um grande respeito.

Pelo escritor, muita gratidão e a maior das admirações.

«(…) De tanta gente que conheci, com quem tive um relacionamento de alguma proximidade, ao encontrar-me com três homens senti essa transcendência. E a minha vida foi muito mais rica por os ter conhecido. Álvaro Cunhal. Fernando Lopes Graça, José Saramago”. (50 anos de Economia e Militância, edições avante!, 2008, pg.316) »

quinta-feira, junho 17, 2010

Mas como é possível?!

Como é possível... estar aqui onde estou e estar no Rossio, em Lisboa?
Mas ESTOU!

"A Política Marítima da União Europeia" (3)

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E lá vou eu a caminho de Olhão, para participar num seminário sobre "Política Marítima" levando na bagagem algum trabalho de casa e documentação vária para melhor me actualizar, como esta página do nº de Abril da revista Portugal e a UE, dos deputados do PCP no Parlamento Europeu

que termina assim, na página seguinte:

«Não obstante alguns aspectos positivos presentes no relatório, alguns dos quais por iniciativa dos deputados do PCP, este não salvaguarda os interesses nacionais e não representa a ruptura que se impunha com as políticas rsponsáveis pelo agudizar da situação socioeconómica do sector.
Impõe-se um intenso debate deste importante sector, dos postos de trabalho, da produção e da soberania nacional. Pela sua parte, os deputados do PCP no Parlamento Europeu continuarão a bater-se pela defesa dos interesses nacionais, de forma a garantir a viabilidade e o desenvolvimento sustentável do sector das pescas.»

Levo muito mais documentação, já lida e aproveitada para actualização, e que pode vir a ser útil, facultada por ajuda camarada e pelo nosso trabalho colectivo.

Com este "regresso" às pescas e ao PE, recuei uns anitos...

quarta-feira, junho 16, 2010

Reflexões lentas - necessidades e luxos (3)

Évora, 12 de Junho de 2010
Aprofundemos um pouco o então dito. com o que passa nos nossos quotidianos. Que não começaram ontem… nem amanhã acabarão.
É um automóvel um “bem de luxo”?
Para alguns, será. Porque alguns procuram um carro de “colecção”, para “demonstração”, o último modelo daquela marca”.
Para outros, talvez seja. Porque essoutros têm o carro, também pelo menos..., para lazer, para “dar umas voltas”.
Para muitos, é uma evidente necessidade. Ou porque é o seu instrumento de trabalho (um taxista), ou porque é o meio que tem para se deslocar para o local de trabalho.
E sempre foi assim?
Claro que não.
Até já houve tempos, por incrível que pareça, em que o automóvel não foi nada. Nem existia… E não foi há tantas décadas como isso.
Depois, houve uma altura em que até se dizia que o automóvel era um "sinal exterior de riqueza". Ou seja, era, claramente, um luxo.
Hoje, um casal desse estrato social, para quem o ter um automóvel já foi considerado por outros como esse tal "sinal exterior de riqueza", tem dois automóveis, e não são considerados nenhum sinal exterior de riqueza – nem pelos menos que assim viam o carrinho de há, sei lá…, 20/30 anos –, pois organizaram a sua vida de modo que é o meio de se deslocarem, cada um para o seu trabalho, ou para outras necessidades como ir às compras ou, até, um dar um salto à praia enquanto o outro tem obrigações familiares do seu lado.
E sempre será assim, como hoje é?
Claro que não.
Quando, e se, houver um serviço de transportes públicos eficaz, criado à medida de um viver futuro, quando o ambiente cultural deixar de ser o de cada um para si e do salve-se quem puder, o automóvel (os automóveis) podem voltar a ser um “bem de luxo” e não uma necessidade.

É para amanhã...

... em Lisboa;
e depois, em Évora;
e depois, no Porto
(...)

Reflexões lentas - Necessidades e Luxos (2)

No regresso a casa, depois da estimulante troca de impressões com um camarada, enviei-lhe um mail (mais ou menos) nestes termos:

1. Quando falo de necessidades e de luxo, citando Marx, e sublinho que as necessidades são o que o ser humano sente como tal, e que a divisão entre uma e outra categoria não obedece a um padrão ou quadro moral, isso não significa que se aceite sem objecções (e sem luta!) o impacto da publicidade, do consumismo, e a criação de necessidades artificiais.
2. De modo nenhum. Uma coisa é o que são as condições que criam as necessidades, outra é o tomá-las (ter o hábito de as sentir…) como tal. Há dois lados da questão. E nisso entra a consciência, e a consciência da necessidade.
3. Aliás, uma definição marxista de liberdade é esta ser a consciência da necessidade.
4. Numa sociedade como aquela por que lutamos, e estamos convictos que virá a ser, haverá consciência da necessidade; não seremos – seres humanos – presa de interesses que nos criam necessidades artificiais e que, por as sentirmos como necessidades nossas, passam a ser necessidades e não luxos.
5. Por isso mesmo, não se extrapolem as actuais condições objectivas e o ambiente cultural envolvente, em que o individual prevalece, para um futuro em que serão outras as condições objectivas, com a abundância generalizada por não apropriação egoísta, e outra a envolvência cultural, em que o colectivo prevalecerá sobre (e corrigirá) o individual.
6. Mas não tenhamos ilusões, nessa organização social não haverá unanimidades, nem ausência de conflitualidade, nem anulação de egoísmos, isto é, não será tudo e todos perfeito (isso seria a utopia…), prevalecerá, sim, o contrário do que hoje prevalece e domina e esmaga.
7. E se lutamos para que, numa primeira etapa (histórica, quando?) teremos a regra de a cada um segundo o seu contributo para o colectivo, na passagem para a etapa (histórica, quando?) de a cada um segundo as suas necessidades, isso pressupõe que haja a consciência da necessidade em cada um, isto é, que cada um é livre… mas o colectivo não lhe permite ser libertino…

terça-feira, junho 15, 2010

"O partido com paredes de vidro"


Assinalar os 25 anos da edição deste livro de Álvaro Cunhal.
Uma grande iniciativa!
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"A Política Marítima da União Europeia" (2) - de que tamanho somos

Portugal é um espaço de pouco mais de 90 mil quilómetros quadrados?, ou tem perto de 20 vezes mais, somados os perto de 328 mil kms2. de espaço marítimo português na costa de Portugal Continental, os pouco mais de 446 mil kms2. na costa da Região Autónoma da Madeira e os quase 954 mil km2. na costa marítima da Região Autónoma dos Açores, num total de mais 1,727 milhões de kms2. de espaço submerso, isto é, um espaço total de cerca de 1,820 milhões de kms2. ?
E assim é porque países com costa marítima têm, de acordo com a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, direito a declarar uma zona económica exclusiva (ZEE) de espaço marítimo, na qual tem direito de soberania e prerrogativas na utilização dos recursos, tanto vivos como não-vivos, e responsabilidade na sua gestão.

Dentro da sua ZEE, cada Estado teria direitos decorrentes do seu direito de soberania, como o direito à exploração dos recursos, o direito à investigação científica, o direito a controlar a pesca por parte de barcos estrangeiros, o direito à exploração de petróleo e gás natural no subsolo marítimo.

segunda-feira, junho 14, 2010

Fotos de arquivo (nem todas com legenda) - 1

Mas o que é que eu estava ali a fazer ????

"A Política Marítima da União Europeia" (1)

Daqui até sexta-feira, vou ter de dar alguma atenção a este programa!
É assim a modos de um regresso (temporário!) ao Parlamento Europeu.


E é importante começar por lembrar que deveríamos estar, nós portugueses, muito interessados em discutir (em negociar!) a política marítima, o aproveitamento da nossa "vantagem comparativa" natural e maior

Reflexões lentas - Necessidades e Luxos (1)

Na tarefa de sábado passado, em Évora, à conversa com os camaradas, durante a exposição tratei da diferença entre necessidades e luxos, inevitavelmente pela rama e com a intenção de abrir pistas de reflexão colectiva, ali e como “trabalho para casa”.
É, como é de uso dizer-se, um tema que há muito me (pre)ocupa, e sobre ele há largo tempo escrevo. Se tivesse dúvidas sobre isso, a ocasional descoberta de um caderno editado pelo Instituto Luso-Fármaco, SARL, para o I Congresso Nacional da Indústria Farmacêutica, prova-o ao incluir «um “exercício” sobre o mercado farmacêutico» em que, em 1968, escrevia:
«(...) Poderíamos, aqui, enveredar por um caminho em que se discutisse o problema das elastecidades, e a partir de que nível de rendimento é que o produto farmacêutico se transforma de luxo (elastecidade rendimento superior a 1) em necessidade (elastecidade rendimento inferior a 1) (...)».
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Notícias destes dias, em que uma discutível amostragem leva a dizer que o “português médio” prefere deixar de comprar alimentos e medicamentos a reduzir a sua despesa em electrodomésticos de diversão e informação (?) e em automóveis, levanta a mesma questão em termos diferentes e bastante interessantes. Quereria isso dizer que o tal “português médio” (se existisse…) sentia (tenha criado o hábito e a dependência cultural de sentir) o(s) carro(s) e o telemóvel e a ligação a canais de televisão e à net como necessidades (de difícil compressibilidade de consumo), e os alimentos e os medicamentos como luxos (de fácil -ou de mais fácil - compressibilidade de consumo). Economicamente falando...
Sinais dos tempos! Da importância da aparência (efeito demonstração) e de uma ausência de consciência das reais necessidades.
E se em 1968 já este tema me (pre)ocupava, estando então nos difíceis primórdios do estudo tão aprofundado quanto possível (e sempre incompleto) de O Capital, agora o reencontro (que deveria ser quotidiano) com estas esclarecedoras páginas na edição portuguesa (edições avante!)do tomo V, que introduz a consideração de dois sectores, o I, de produção de meios de produção, e o II, de produção de meios de consumo e, neste sector, faz a divisão entre meios de consumo necessários e meios de consumo “de luxo”, não resistindo à citação que também comprova a riqueza da abordagem marxista:
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«Para a nossa finalidade (análise da conversão no interior do sector II no subsector dos meios de consumo que entram no consumo da classe operária), podemos reunir todo este subsector na rubrica: meios de consumo necessários, em que é totalmente indiferente se um produto real, por exemplo, como o tabaco é, do ponto de vista fisiológico, um meio de consumo necessário ou não; basta que, em conformidade com o hábito, [ele seja] um tal [meio de consumo necessário].»
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Vou continuar nestas reflexões, até porque, no final dos nossos trabalhos formais, à conversa com um camarada ele levantou problemas muito pertinentes que trouxe como meu “trabalho para casa”.
Estes temas são inesgotáveis…

Um falso dilema e a sua resolução

Ao lado, ou ao redor, dos desejos de explosão de um e da implosão do outro, os 14 que sabiam - uns porque estavam a fazer o negócio, outros porque sabiam quando tiravam um chapéu e deixavam de saber quando colocavam outro chapéu - e as mais de 1800 empresas que já faliram antes de ano chegar a metade enquanto se promove, como enganadora salvação das situações pessoais, o empreendedorismo, a criação de empresas para a maioria falir a prazo... ilustram o grande e falso dilema:


a situação está insustentável ou difícil?
A nosso juizo, a situação está dificilmente sustentável!
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Mas tem saída!
Porque há alternativa! Com outras políticas que não as que criaram as dificuldades, no léxico (e prática) governamental, isto é, PS, e a insustentabilidade, no léxico (e prática) presidencial, isto é, PSD. Sempre com o CDS-PP ora com um pé dentro para ajudar, ora com um pé fora para ajudar.

domingo, junho 13, 2010

Falsas questões e verdadeiras alternativas

Quanto a bola começou a saltar e “nos” preparamos para entrar em campo (há uma estranha esperança descrente nas hostes lusas… valha-nos a Virgem, diz Madail!), fez-se da assinalação dos 25 anos da entrada para as CE uma frouxa e desanimada tentativa ibérica de dizer “à malta” que foi o melhor que nos podia ter acontecido… senão estávamos ainda pior do que estamos.
Estamos assim…
E doura-se a pílula com a arrogantemente explícita (mas também subliminar) mensagem de que foram excelentes os responsáveis por aquele passo e “nem queiram saber em que estado estaríamos se não fosse a clarividência, a coragem, a determinação (e etc….) com que eles o deram”.
O que, noutros (e nos mesmos) termos é dito pelos próprios num exercício repulsivo (para não dizer repugnante). Como o ilustram e deslustram as bodas de prata de Mário Soares-Ernani Lopes, num almoço de não-sei-quantas-horas e, talvez…, bolo de velas incluído na conta do restaurante chique que o Expresso teria pago (sim, porque ali e com aqueles não há almoços grátis…).
E ficam as falsas questões para ludibriar a malta:
Somos ou não somos mais europeus que éramos?; gozamos ou não de um prestígio que não tínhamos?; como seria Portugal senão tivéssemos entrado, queriam-no igual ao que era?: melhorámos ou não substancialmente o nível de vida?
Importa afirmar, reafirmar, insistir, reincidir no seguinte:
Já éramos europeus antes de entrar para as CE!; temos o prestígio da cerviz curvada, da obediência acrítica!; sem aquela adesão Portugal seria diferente, diferente do que era, diferente do que é!; não é melhoria, sobretudo para o futuro que nos está criado, estarmos menos soberanos, mais dependentes, mais desiguais entre nós, e mais distantes do que estávamos do “nível europeu”!
Havia alternativa para aquela entrada (c)ordeira e servil, demitida de negociação, e não era para continuarmos como estávamos, o que, aliás, seria impossível.
Havia alternativa para impedir o desprezo pelos nossos recursos naturais e adquiridos (mormente o mar), a destruição do nosso aparelho produtivo.
Havia alternativa para não acontecer o que aconteceu, e foi previsto e prevenido e, agora, quando se comprova, parece ser descoberto com surpresa e não dá razão a quem nunca a teve, nem quando repete, em palavras ocas, a razão que fomos tendo ao longo dos tempos.
Havia a alternativa da valorização do trabalho, do aproveitamento dos nossos recursos, da recusa à invasão do financeirismo e dos interesses alheios pelas auto-estradas da penetração.
Havia alternativa. E há!

Mesmo a propósito!

Recebido num e-mail:


"We can't solve problems by using the same kind of thinking we used when we created them."
"Não conseguimos resolver problemas usando o mesmo tipo de pensamento que usámos quando os criámos"

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Albert Einstein


Obrigado, amigo!

sexta-feira, junho 11, 2010

De Évora a caminho de casa

12 de Junho.
Ontem, à noite, em Évora, ainda tentei dar-vos a boas noite mas o "sem fios" não funcionou... ou fui eu que fui azelha.
Recuperei o que, afinal, não se perdeu, ficou como "rascunho" e que, agora, depois de um dia em cheio, em tarefa de que muito gosto, serve para os desejos de boa noite para hoje. Que também estendo a eventuais novos visitantes... porque houve camaradas que me pediram este endereço. Para eles, se não ficaram cansados de me ouvir, aqui ficam as saudações e os agradecimentos por um dia de trabalho tão agradável!
Estava, então, em "rascunho":
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Porque hoje começámos o dia a fazer quilómetros para ir a Lisboa homenagear a memória de um homem que o merece como raros e chegar aqui a Évora, posso apenas deixar um apontamento, reproduzindo esta frase que o cantigueiro deixou no seu blog, a propósito do discurso de um tal Barreto no 10 de Junho, e que diz muito (ou tudo) do que fica sempre (e porquê?) por dizer quando se fala do "velhos combatentes":

«Poderia, sei lá... ter-se lembrado de que os “velhos militares de Abril” foram todos (ou quase todos) “velhos combatentes” na Guerra Colonial...»

Diálogo de exilados - Brecht

Continuo a ler, saboreando, Dialogues d'exilés, de Bertolt Brecht. E traduzindo pedaços para melhor saborear.
São dois alemães, fugidos do seu país, durante a 2ª guerra mundial, que conversam num bar de uma gare ferroviária. Sobre... tudo.
Na Cena VII é sobre cultura que falam.

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Kalle

Mas houve, na verdade, algum acontecimento concreto que o tivesse decidido a partir? Nas memórias que me tem lido você não fala disso. Apenas se sente uma certa repugnância em ficar.

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Ziffel

Não fiz, ainda, alusão a umacontecimento preciso porque essa incidente não tem uma dimensão geral. No nosso instituto, havia um assistente incapaz de distinguir um protão de um neutrão. Convencido que era a judeiização do sistema que lhe impedia a carreira de cientista aderiu ao partido. Uma vez, tive que lhe corrigir um dos seus trabalhos e ele descobriu que eu não tinha lugar na revolução nacional: eu perseguia-o porque ele ele militante desse como-é-que-lhe-hei-de-chamar? Foi assim que a minha estadia na Alemanha se tornou problemática quando esse como-é-que-lhe-hei-de-chamar? tomou o poder. Por natureza, sou incapaz de me entregar, sem reservas, a grandes sentimentos: não estou à altura de um Chefe (Führer) enérgico. Nessas épocas de grandeza, épicas, gente como eu perturba a harmonia geral. Soube que se construiam campos para lá meter gente como eu, assim nos defendendo da cólera do povo; mas esses campos não me seduziam...

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Kalle

Quer você dizer que, na sua opinião, você não era era suficientemente culto para aquele país?

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Ziffel

De facto, estava longe de ser suficientemente culto para continuar a levar uma existência de homem no meio de tudo aquilo. Chamem a isso fraqueza, se quiserem, mas não sou suficientemente humano para continuar a ser homem face a um excesso de desumanidade.

(...)

Vasco Gonçalves


O comum da terra

Nesses dias era sílaba a sílaba que chegavas.
Quem conheça o sul e a sua transparência
também sabe que no verão pelas veredas
da cal a crispação da sombra caminha devagar.
De tanta palavra que disseste algumas
se perdiam, outras duram ainda, são lume
breve arado ceia de pobre roupa remendada.
Habitavas a terra, o comum da terra, e a paixão
era morada e instrumento de alegria.
Esse eras tu: inclinação da água. Na margem
vento areias mastros lábios, tudo ardia.

EUGÉNIO DE ANDRADE
in: 12 Poemas para Vasco Gonçalves, Porto, 1977

quinta-feira, junho 10, 2010

10 de Junho

Durante anos, da data se fez triste memória.
Não o merecia Camões e a epopeia que cantou. Como foi no tempo em que foi.
Desses anos ficou injusta conotação.
Mas ser português é este ser o que de bom e de mau fomos e somos, fizemos e fazemos.
Por isso, e por Camões, 10 de Junho é o dia de Portugal e dos portugueses... apesar de Cavaco e dos seus discursos.

Da última tese sobre Feuerbach

Interpretar o Mundo,
reflectir sobre o seu estado
e como o melhorar,
é bom.. mas é insuficiente
e até pode ser perverso.

A questão é lutar
para transformar o Mundo
,
para que ele seja melhor,
para que seja menos desumano,
para que ele venha a ser
sempre mais humano!

Brevíssima leitura para um dia feriado

«Um estudo, mesmo superficial, da história económica contemporânea dos principais países capitalistas (talvez mesmo dos menos importantes), revela que a luta tenaz entre o capital financeiro (representado pelos monopólios e os bancos) e o capital de livre concorrência se salda geralmente pela vitória do primeiro, isto é, do imperialismo.»
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«Durante a vida dos grandes revolucionários, as classes opressoras recompensam-nos com incessantes perseguições: acolhem as suas doutrinas com um furor selvagem, com um ódio tenaz, com as mais intensas campanhas de mentiras e calúnias. Depois da sua morte, tentam fazer deles ícones inofensivos, canonizam-nos, por assim dizer, rodeando o seu nome com uma certa auréola a fim de «consolidar» as classes ou as nações oprimidas e de as mistificar; fazendo-o, esvaziam a doutrina revolucionária do seu conteúdo, depreciam-na e destroem-lhe a força revolucionária.»


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Amilcar Cabral,
(discurso improvisado no Symposium d'Alma-Ata
- República Socialista Soviética do Cazaquistão,
em Abril de 1970.)

Brevíssima nota

A "graça" de ontem, de ter deixado um post para sair à hora em que estava a participar numa tertúlia sobre direitos humanos, deu azo a alguns comentários que, de certo modo, me obrigam a vir dizer como correu a iniciativa.
Conversar aqui sobre o que se conversou ali seria muito interessante, e o facto é que trouxe muito... trabalho para casa.
Uma sala cheia, um ambiente muito agradável, uma recepção simpática e estimulante para o "orador convidado" que era eu... e fiquei pouco à vontade com a designação. "Orador convidado", eu?...
Bom... à volta do, ou a começar pelo, comentário ao livro (e ao filme) "O rapaz do pijama às riscas" conversou-se de forma animada, viva, com a auto-crítica do "orador convidado" ter falado demais! E, às vezes, "ao lado"...
Mas foi uma noite muito bem passada.
Regressei a casa, e aqui, enriquecido pela conversa que houve, com esse "trabalho para casa" que me agrada sempre trazer e de que deixo uma pista:
  • háverá sempre judeus e nazis, ou católicos e protestantes (o autor de "O rapaz do pijama às riscas", o John Boyne, é irlandês e está ainda na casa dos trinta anos), ou bósnios e sérvios, ou brancos e pretos, ou atouguienses e "da "vila velha", ou homens e mulheres, ou lampiões e lagartos (ou dragões), ou sionistas e árabes, ou coreanos que são do sul e coreanos que são do norte, ou uns que querem explorar outros e outros que o sabem e não querem ser explorados, e por aí fora
  • haverá sempre eu (ou nós) e o outro (ou outros, ou outras)
  • mas também há declarações - solenes e verdadeiras - de que "todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos, que dotados de razão e de consciência, devem agir para com os outros em espírito de fraternidade".
  • então... porque não?
  • porque os seres humanos também nascem diferentes, e diferentes são as circunstâncias em que nascem e crescem, circunstâncias que, ao longo da vida, além de confirmarem que diferentes somos, acirram as diferenças, e destas há uns que querem tirar vantagens pessoais ou de grupo, egoístas, ignorando as declarações solenes que alguns desses mesmos até assinaram, fazendo figas atrás das costas.
Iguais e diferentes, diferentes e iguais!
A luta dos seres que humanos são e querem viver num futuro de humanos seres é pelo não apagamento da razão, é pelo despertar e enraizar de consciências. É agir e lutar para que uns para com os outros se aja em espírito de fraternidade.
Fácil de dizer? Difícil a luta! Mas imprescindível e cada vez mais urgente.
Imprescindível, urgente, vital. É que estamos a correr tantos riscos!
Leia-se o artigo de ontem de Fidel Castro, no limiar da tragédia. Até começa por nos falar do campeonato de mundo de futebol... mas é muito, muito sério!

quarta-feira, junho 09, 2010

A propósito de O rapaz do pijama às riscas



Preparo-me, psicologicamente…, para ir participar numa “tertúlia” (gosto do nome) sobre o livro “o rapaz do pijama às riscas” (leram?), de John Boyne, e, inevitavelmente, sobre o filme nele baseado, de Mark Herman, com igual nome em português (viram?).
Ao que me disseram, a conversa deverá encaminhar-se, se encaminhada for, para a questão dos direitos humanos. Cá por mim, não tenho nada contra. Antes pelo contrário...
Digo até que, se tiver engenho e arte, ajudarei a que, a partir do livro e do filme, se fale de direitos humanos, das declarações sobre direitos do homem/humanos que têm sido feitas (e porquê nessas datas) – em 1789, 1848, 1917, 1919, 1944 e 1948. E mais direi que não se podem confinar os direitos humanos a direitos políticos, que direitos humanos são… mas não só porque também o são os direitos sociais – ao trabalho, à saúde, à educação.
Bom… não levo guião, vou disponível para o que vier à baila-conversa, mas quero ver se consigo sublinhar quanto me parece significativo que sobre a violência bárbara do nazi-fascismo, da 2ª guerra mundial exista um livro como o que escreveu um irlandês que nasceu em 1971, isto é, 23 anos depois da guerra ter acabado, e que o filme tenha sido feito por um inglês que nasceu quase 10 anos depois do fim da guerra.
A esta distância, para uns tão longe, para outros – como eu – tão próxima porque viveu a guerra e o seu fim, este facto parece-me interessante para "tertuliar".
Da guerra de 1914-18. e de situações e períodos anteriores, só pode, hoje, escrever livros e fazer filmes quem nasceu depois delas (que me perdoe algum escritor ou cineasta tipo Manoel de Oliveira…), e quase impossível será encontrar quem as tenha vivido, mas da guerra de 1939-45, quem nasceu muito depois dela (ou não...) e pode ser discutida com quem a viveu, com quem tem testemunhos vivos a dar porque, se não vestiu pijamas às riscas, outros vestiu. E, quando fala de direitos humanos, sabe bem o que é a ausência de direitos. A ausência de liberdade, de democracia, e o mau uso destas.
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Deixo esta mensagem para ser publicada quando estiver a… actuar. É outra experiência engraçada!

Este muro de que tão pouco se fala...


Aumenta o número de mortos
na fronteira México-Estados Unidos
Luis Beaton,
quarta-feira, 09 de Junho de 2010,
00:03 Washington, (PL)

O número de mortes violentas de imigrantes na fronteira Mexicano-Americana aumentou relativamente a 2008, como o mostram as estatísticas oficiais.
A escassas horas de um agente fronteiriço estadounidense matar, segunda-feira à noite, o menor Sergio Adrián Hernández Huereca, os números do Ministério das Relações Exteriores do México revelavam um aumento do número de vítimas de 5 em 2008 para 17 em 2010.
Com a morte do adolescente, de 14 anos, são duas as mortes recentes, o que mantém a questão da reforma da imigração nos Estados Unidos na agenda, através de acontecimentos macabros, mortes e assassinatos.
A morte de Hernández Huereca, numa ponte bi-nacional perto de El Paso, Texas, junta-se ao homicídio em San Diego, Califórnia, do seu compatriota Anastasio Hernández, depois de ter sido apanhado, espancado e de receber uma descarga das pistolas dos polícias que patrulham a fronteira. Esta morte em San Diego foi comprovada juridicamente como um assassinato, e põe em causa as acções dos funcionários federais no tratamento de quem tenta entrar no país sem papéis. O governo mexicano, segunda a Secretaria do Exterior, pediu a Washington o castigo dos culpados e uma revisão dos procedimentos violentos na fronteira, incluindo o uso de armas letais.

O assassinato dos jovens mexicanos despertou um irado clamor nas proximidades da fronteira, como o mostraram imagens e testemunhos transmitidos pelo canal CNN. Segundo este canal televisivo, foi exigida pelo México à Casa Branca uma investigação séria e transparente.
O tema da violência na zona de demarcação entre os dois países foi abordado pelo Presidente de México, Felipe Calderón, durante a sua visita de Abril a este país, para que houvesse uma modificação no código migratório. Então, em contrapartida, o Presidente Barack Obama, pronunciou-se a favor de uma reforma migratória integral com apoio bipartidário, que ponha fim a um conflito que cresce, enquanto os legisladores se mostram incapazes de negociar um acordo.
Na actualidade vivem na nação do norte cerca de 12 milhões de pessoas indocumentadas, das quais mais de seis milhões são mexicanas.